terça-feira, 19 de março de 2013

A existência da corrupção em atos cotidianos, para além das notícias sobre políticos corruptos veiculadas com frequência na mídia


No Brasil é muito comum associarmos a corrupção aos políticos: deputados, senadores, vereadores, prefeitos etc. Não é à toa, afinal de contas quase todos os dias os jornais e a TV apresentam denúncias do uso de recursos públicos e verbas para o favorecimento pessoal. Segundo a organização Transparência Internacional, o Brasil é o 73º país mais corrupto do mundo. O mais curioso é que, apesar da percepção generalizada sobre o problema, à discussão sobre as causas e as possíveis soluções ainda é insuficiente ou superficial. E muito pouco se fala sobre atos cotidianos que também podem ser considerados corruptos como sonegar imposto ou dar uma gorjeta para o garçom esperando sentar na melhor mesa do restaurante, pagar o "flanelinha", parar o carro em local específico para deficientes, dar propina para conseguir contratos com governo ou desviar verbas públicas para benefícios individuais, etc.
A palavra corrupção remete à ruptura, que pode significar o rompimento ou desvio de um código de conduta. Com isso, compreender melhor o conceito é analisar a diferença entre a corrupção aceitável e a não aceitável socialmente.
O que é corrupção? De acordo com a ONG Transparência Internacional, a corrupção pode ser definida como "o abuso de poder político para fins privados". Essa é a definição mais aceita e conhecida do termo e pode ser aplicada à maior parte das notícias sobre a corrupção que vemos diariamente. Trata-se, no entanto, de uma definição muito ampla: infelizmente, ela não qualifica os indivíduos envolvidos e suas respectivas responsabilidades. A final, o que é necessário para que um ato seja classificado como "corrupção"? Quem são as pessoas envolvidas?
Sociológicos e cientistas políticos já propuseram diversas tipologias para os atos de corrupção e para identificar as pessoas e organizações envolvidas. Para o cientista social italiano Diego Gambetta um ato de corrupção é caracterizado pela presença de, no mínimo, três tipos de atores sociais distintos: o corruptor, o representante e os representados. Os representados são os cidadãos que possuem direitos e deveres, ou que acessam determinados serviços públicos, como qualquer outra pessoa e de acordo com as leis vigentes; o representante é o funcionário público ou detentor de cargo político, o qual compete certos comportamentos que são ignorados ou alterados nos casos de corrupção; por fim, o corruptor, é o cidadão que interfere em um processo democrático ou burocrático rotineiro, para obter alguma vantagem por meio de alguma espécie de acordo com o representante. Nesse jogo de favorecimento mútuo entre o corruptor e o representante (por definição, um funcionário público ou um detentor de cargo eletivo corrupto) quem sai perdendo são sempre os demais representados - os cidadãos, contribuintes ou consumidores - que vivem a vida cotidiana de acordo com as leis vigentes.
A relação entre o representante e o corruptor pode assumir diversas formas: em uma versão mais branda implica no representante público agindo de maneira a favorecer o corruptor sem necessariamente subverter suas funções no Estado (como, digamos, "acelerando" a emissão de um documento em troca de favores diversos ou vantagens monetárias); em suas formas mais radicais, a corrupção é caracterizada pelo representante excedendo suas funções normais em troca de favores como no de um prefeito usando sua influência política para favorecer um empresário em uma licitação. Seja qual for a forma de corrupção analisada, convém salientar que normalmente esses atos não são cometidos por apenas um tipo de pessoa: o desvio de comportamento do representante público está, na maioria das vezes, relacionado com os esforços de uma pessoa para obter benefícios de forma distinta dos demais cidadãos de sua cidade, estado ou nação. Ou seja: normalmente, o ato de corrupção apresenta-se como uma ação entre dois tipos de atores sociais, de forma a utilizar o sistema de forma atípica ou ilegal, para obter vantagens particulares. Portanto, a corrupção é a ação conjunta de representantes públicos e corruptores para obter vantagens (econômicas ou não) para ambos os envolvidos, em detrimento dos direitos dos demais cidadãos e o funcionamento normal de alguma instituição ou órgão público.
De onde vem à corrupção? A partir do pensamento do sociólogo alemão Max Weber, a corrupção poderia ser associada ao fenômeno do patrimonialismo. O termo remete às formas de governo de sociedades antigas ou tradicionais, onde não há distinção ou limites entre público e privado. Nesses casos (normalmente descritos como autocracias ou oligarquias), os bens públicos são considerados como propriedades dos governantes ou de determinadas classes sociais, sendo utilizados e explorados conforme os interesses das lideranças estabelecidas. Nas sociedades modernas esse fenômeno estaria em decadência, por conta dos processos de racionalização, otimização e impessoalidade decorrentes entre outros fatores da burocracia. Assim, os governos atuais deveriam ser em tese, "burocráticos e impessoais". E os servidores públicos se comportariam de maneira profissional e isenta e os cidadãos seriam tratados de forma igual e indiscriminada. A presença de formas diversas de patrimonialismo indicaria, portanto, que uma sociedade ainda carrega em si traços de formas mais antigas e menos racionais de governo.
No Brasil, a corrupção teria suas origens ou poderia ter sido intensificada pelas características de nossa própria história política. A corte portuguesa, por exemplo, quando transferida para o Brasil com a v inda de D. João V I em 1 808, era caracterizada por diversas relações de favorecimento e compromissos entre os nobres e a burocracia estatal que os acompanhavam.
Segundo pensadores como Raimundo Faoro, as relações de patrimonialismo, clientelismo e nepotismo daquela época tornaram-se intrinsecamente vinculadas às práticas políticas do Brasil atual. Sendo assim, as práticas políticas daqui seriam antiquadas e estariam longe de um estágio mais moderno e racional.
Os atos corruptos divulgados nas notícias. Será que essa é uma exclusividade dos políticos? No dia a dia, quando alguém burla regras ou até leis para obter alguma vantagem isso também é corrupção?
Nesses casos, a motivação do cidadão comum é a mesma do político? E as justificativas? Podemos dizer que as pessoas também são motivadas por uma herança que misturava público e privado? A desorganização de algumas instituições públicas, o excesso de burocracia e a lentidão da justiça justificam atos corruptos dos cidadãos?
Quais as possíveis soluções para evitar a má prática. Quais as justificativas para atitudes corruptas tomadas no dia a dia.

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